sábado, 31 de março de 2012

Aceitação

Diria que este é um tema intrigante, pois diz respeito a muitas variantes pelas quais os seres humanos têm que passar, o qual também serão trabalhadas através de exemplos aqui. Há várias vertentes que se pode utilizar este termo na vida e que, invariavelmente, temos que passar mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, seja como espectadores ou seja vivenciando a experiência. Achei um tema bacana para trazer para cá e refletirmos um pouco (como disse na publicação sobre o desapego), pois não se vê muito por aí a discussão desta palavra.

A aceitação está, de alguma forma, ligada ao sofrimento, visto que aceitar não significa exatamente estar de acordo com a situação ou com alguma coisa que lhe é apresentado, não é estar passivo à vida. Mas então, o que é? Aceitar, segundo o dicionário, é receber o que é oferecido, estar de conformidade com algo, é admitir, entre outros termos. Podemos então estabelecer diversas nuances em nossas vidas que estão ligadas a esta palavra. A aceitação, muitas vezes, anda de mãos dadas com a resignação, à contraparte da resistência, onde tem o seu oposto. Poderíamos então dizer que aceitar nem sempre está ligado à concordância do fato ocorrido e nem necessita que a situação seja aprovada por aqueles que a aceitam (alguém pode decidir não agir contra uma situação e ainda assim não a ter aceitado), apenas experienciar uma situação sem a intenção de mudá-la (e estando desta forma mais próximo à resignação). Como aceitar o fato de uma pessoa querida ter morrido, mas não concordar com sua morte ou a falta que ela fará. Então, a não aceitação ou a não conformidade com a realidade que se vive traz o sofrimento, o que faz com que exercícios como a meditação se torne eficazes e necessários (mas não obrigatórios).

Embora exista apenas 2 pessoas no mundo (eu e o outro), a aceitação é um exercício íntimo, como a maioria das virtudes (se não o for em sua totalidade), o que não o torna dependente de qualquer outra pessoa. Existe a auto-aceitação e existe a aceitação (que para mim é apenas a aceitação do outro para consigo mesmo, isto é, a auto-aceitação do próximo). Nisso entra todos os tipos de aceitação: da morte, de cor de pele, de orientação sexual, de religião, de diferenças gerais, de situações, de verdades e mentiras, de caráter, de gostos e desgostos, de doenças e por aí vai. Vamos aos exemplos.

Vou utilizar como exemplos meu desenho preferido (Avatar) e um dos seriados que mais gostei (Heroes). Sobre Avatar é mais fácil e simples: num dos primeiros episódios, o jovem Aang (então com  anos) foge ao descobrir que ele era o grande avatar e que tinha em suas mãos tanta responsabilidade, não aceitando assim o seu destino como condutor da humanidade. No episódio Aceitação (Acceptance) da 4ª temporada (chamada Redenção) de Heroes, podemos ver basicamente a saga de aceitação de 3 personagens: Hiro (japonês com habilidade de controlar o tempo-espaço, podendo teleportar-se para o passado ou futuro e parar o tempo), Tracy (com habilidade de congelamento e transformar-se em água), Noah (humano, sem habilidade especial) e Sylar (nome real Gabriel, com habilidade original de entender como as coisas funcionam - "Aptidão Intuitiva" como é chamada -, mas rouba outras habilidades ao longo da história). Hiro tem uma doença terminal que se agrava à medida que usa sua habilidade, porém ainda não contou para sua irmã a condição em que se encontra, recusa-se a aceitar sua doença e tenta consertar seus erros do passado com sua habilidade; Noah trabalhava escondido na "Companhia", onde caçava as pessoas com habilidades especiais e as prendiam, mas perdeu o emprego depois da destruição da Companhia e ficou apático após a separação com a esposa; Tracy quer retomar sua vida rica e sedutora ao lado de políticos e falcatruas; Sylar está preso à vida de outra pessoa após um "transplante de mentes" (foram introduzidas lembranças de Nathan para que Sylar pudesse pensar que era este personagem). Hiro faz viagens ao passado para consertar aquilo que ele considera um erro de sua vida, descobrindo ao final do capítulo que os erros fazem parte da vida e é com eles que ganhamos experiências e aprendemos, contando posteriormente para sua irmã seu destino e aceitando, finalmente sua doença. Tracy tenta retomar sua "carreira", porém percebe que lhe falta algo e que não era exatamente aquilo que ela queria, redescobrindo e aceintando a vida "fútil" que levava e resolvendo ajudar as pessoas de outra forma, quando percebe que os políticos não estão interessados em ajudar a população. Sylar, que pensa ser Nathan, redescobre aos poucos suas habilidades extras e topa de frente com um erro que Nathan cometeu com uma ex-namorada, fazendo-o entrar em conflito com quem ele é de verdade e os erros que também cometeu. Noah tenta recomeçar a vida, ajudando àqueles com habilidades especiais o tanto quanto possível e até tenta arrumar um novo emprego com o incentivo de sua filha adotiva Claire, mas diz que não sabe fazer outra coisa na vida.

Para não me alongar demais vou ficando por aqui. Podemos ver que a aceitação não é fácil de acontecer, mas pode ser praticada. A vida fica muito mais tranquila quando aceitamos as coisas que nos são colocadas, e não estou falando de ser passivo ou permissivo com tudo, pois faz-se necessário agir. É necessário aceitar as doenças, as limitações, aceitar que se é negro (ou branco, amarelo...), aceitar que se é gay (hetero, bi ou trans), aceitar esta ou aquela religião de tal pessoa, aceitar que se bateu o carro, aceitar que fulano ou beltrano morreu, aceitar o fim do casamento, aceitar o filho que se espera, aceitar que não se tem dinheiro para isso ou aquilo, aceitar o emprego que se tem, aceitar que ciclaro é assim ou assado, aceitar que tal pessoa gosta disso ou daquilo etc etc etc. É preciso aceitar, o que gostamos e o que não gostamos, bem como devemos aceitar o mesmo com relação ao outro e o outro com relação a ele mesmo. Parece meio complicado não é? Queremos que o outro seja, goste ou aja de um jeito que nós queremos ou julgamos ser melhor. Aceitar que estamos doentes, aceitar nossas limitações e a dos outros, aceitar que precisamos realmente melhorar isso ou aquilo, aceitar que cometemos erros e que os outros também cometem (mas que não devemos permanecer nele quando o detectarmos), aceitar que morreremos um dia, todos nós.

Enfim, aceitar é o primeiro passo para a solução dos problemas (mesmo que este problema não tenha solução, apenas aceitar a condição do outro, a morte ou a doença que temos, mesmo que não concordemos com este resultado ou que ele não nos agrade). Aceitar é o primeiro passo para a transformação, que só virá depois de agirmos. Portanto, a doença só vai ser curada ou tratada aceitarmos sua existência e buscarmos a cura/tratamento; a limitação só será transposta/vencida após a aceitação de sua existência; a minoria pode até perder em primeiras instâncias, mas será o primeiro passo para a aceitação/respeito e possivelmente a melhora da sociedade, da maioria (como no caso das mulheres, dos deficientes, das diferenças religiosas ou sexuais, dos negros, entre outros). Portanto, aceitar é reconhecer a existência de algo que nos perturba (ou não). Aceitar é uma escolha e para se mudar uma realidade necessita-se esforço próprio (e nem todos estão dispostos a abrir mão de seus ideais). Aceitar é um exercício e o primeiro passo para a transformação. Se esta não for possível (por exemplo na aceitação e não concordância da situação; ou mesmo a não aceitação), podemos partir então para o respeito e, por fim, a resignação (abdicação, renúncia ou resiliência de forma tranquila e consciente). Pensemos.

Namastê. Au revoir.

Um comentário:

  1. Sim,é um bom tema para reflexão e algo que será sempre trabalhado durante nossa caminhada.Ora uma coisa,ora outra ( diferentes situações )e que mesmo qdo achamos que está resolvido ...surge outra para aprendermos a lidar com a mesma.Bom texto e legal a sequência dos mesmos.Tbém assisti Heroes e gostei ( mas não assisti as fases mais adiantadas -cheguei a ver as primeiras fases).Pra conhecer e pq tinha essa coisa diferente ,um pouco do que já falamos dos desenhos que assistimos e aquela coisa de tudo estar ligado de uma certa forma .Até.LUZ.

    ResponderExcluir