sábado, 14 de janeiro de 2012

Contos, poesias, frases e afins - 1

Esta é uma publicação de nova temática, assim como também criei o tema Recursos. Neste tema serão abordados pequenos contos, poesias diversas, frases citadas por diversos autores (como Einstein, Drumond, Gandhi, entre outros) e demais itens que se encaixam na mesma categoria.

Para começar, trago um poema de Cora Coralina. Esta poetisa goiana, de nome Ana Lins dos Guimarães Peixoto, nascida em 20/08/1889, sob o pseudônimo de Cora Coralina, começou sua carreira de poetisa em 1956 aos 76 anos de idade. Recebeu elogios de diversos artistas da época, como Carlos Drummond de Andrade, em 1979. Escreveu sobre diversas coisas, dentre os quais faz parte a vida interiorana da cidade de Goiás, onde residia antes de falecer em Goiânia em 1985 (e onde sua casa se tornou museu, juntamente com suas obras após sua morte).

MINHA CIDADE

Goiás, minha cidade...
Eu sou aquela amorosa
de tuas ruas estreitas,
curtas,
indecisas, entrando,
saindo
uma das outras.
Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa.
Eu sou Aninha.


Eu sou aquela mulher
que ficou velha,
esquecida,
nos teus larguinhos e nos teus becos tristes,
contando estórias,
fazendo adivinhação.
Cantando teu passado.
Cantando teu futuro.


Eu vivo nas tuas igrejas
e sobrados
e telhados
e paredes.


Eu sou aquele teu velho muro
verde de avencas
onde se debruça
um antigo jasmineiro,
cheiroso
na ruinha pobre e suja.


Eu sou estas casas
encostadas
cochichando  umas com as outras.
Eu sou a ramada
dessas árvores,
sem nome e sem valia,
sem flores e sem frutos,
de que gostam
a gente cansada e os pássaros vadios.


Eu sou o caule
destas trepadeiras sem classe,
nascidas na frincha das pedras.
Bravias.
Renitentes.
Indomáveis.
Cortadas.
Maltratadas.
Pisadas.
E renascendo.


Eu sou a dureza desses morros,
revestidos,
enflorados,
lascados a machado,
lanhados, lacerados.
Queimados pelo fogo.
Pastados.
Calcinados
e renascidos.
Minha vida,
meus sentidos,
minha estética,
todas as vibrações
de minha sensibilidade de mulher,
têm, aqui, suas raízes.


Eu sou a menina feia
da ponte da Lapa.
Eu sou Aninha.


Retirado do livro Cora Coralina, seleção de Darcy França Denófrio, coleção melhores poemas, 1° edição de 2004.

Namastê. Au revoir.

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