domingo, 30 de outubro de 2011

Sobre a Morte e o Morrer - 3



Bem, já falei sobre a morte aqui e agora nao vai ser muito diferente, exceto pelo fato de que pretendo falar sobre isto a última vez. Na verdade, vou agir em duas frentes: sobre a situação em que nós encontramos após a morte (na verdade, sobre o momento da passagem) e sobre a preparação nossa frente a esta situação irrefutável, da qual nenhum de nós escapará.

Infelizmente este assunto ainda é um tabu para a grande maioria das pessoas, um assunto que não pode ser discutido ou sequer mencionado. Porém estão redondamente enganados. Este é um assunto que demanda tanto reconhecimento, tempo e atenção, quanto a saúde e a manutenção de nosso próprio corpo, nosso sistema político e social. Definitivamente é um assunto que precisa ser discutido, falado e ouvido, mais cedo ou mais tarde. Talvez por isso, somos pegos sempre de surpresa, mesmo quando a morte é certa (como no caso de doentes terminais).

Na publicação anterior sobre o tema, falei um pouco sobre o que podemos esperar após nossa passagem. Primeiramente é importante nos concientizarmos do nosso estado no momento do desenlasse. Numa situação trágica e brusca, como acidentes, assassinatos, assaltos dentre outros, somos levados em circunstâncias de extremo transtorno psíquico e desvairio mental, sem consciência do que acontece e sem saber até de quem somos. Deve ser mantida a paz na consciencia, tanto quanto nos for possível. E temos que nos esforcarmos para isso, pois vale a pena. Por falar em consciência... sempre me perguntei: porque tamanho desespero diante da morte? Venho refletindo sobre isso e a resposta vai além do famoso medo do desconhecido. A resposta vai até a nossa falta de compromisso conosco e com a Lei Natural, também conhecida como a Lei de Amor, criada por Deus para reger todo o Universo. Quando chegamos, trazemos no inconsciente todas as tarefas que devemos fazer para nos melhorarmos. Então, quando nos deparamos com a hora do retorno, nos sentimos culpados por não termos cumprido nosso compromisso. Quem passa perto da morte e consegue voltar (como nos AVEs - derrames -, infartos e o famoso EQM - Experiencia de Quase Morte) volta diferente, pelo menos na maioria das vezes. Volta mais desperto pata si e para o proximo, mais generosos, emotivos e mais desperto para as "Questões Essenciais" da vida.E isso nos leva pra nossa próxima questão: como nos preparamos para a morte.

Temos que manter a calma, a tranquilidade e a serenidade em qualquer circunstância da vida, inclusive na hora da morte. (Muitos são os outores que falam sobre isso, inclusive nesta viagem que fiz a Sao Paulo para o Congresso de TO comprei um livro sobre cuidados paliativos que trata de assuntos relacionados a morte no campo profissional da Saúde.) Em qualquer circunstância, as coisas ocorrem por afinidade. Encontramos pessoas sempre com as mesmas que as nossas, por isso formamos as comunidades: quem gosta de beber vai pro bar, quem gosta de rezar vai pra igreja, quem gosta de estudar vai pra escola, quem não gosta de fazer nada fica por aí vagando, quem gosta de drogas ou prostíbulos fica com quem gosta da mesma coisa. E na morte não é diferente.

Todos sabemos que morreremos um dia, mas ninguem toma consciência disso. Ninguém fala, ninguém se prepara. Ninguém faz o exame de consciência para saber se fez o seu melhor, portanto ninguém tem paz de consciência. Sei que parece meio radical falar ninguém ou todo mundo (ainda mais para mim), mas é que seria 99% da população mundial. Mas, como bem aprendi no espetacular documentário brasileiro Lixo Extraordinário, um catador de lixo fala: 99 não é 100.

Na verdade, a reflexão sobre a preparação para a morte me chegou como presente pela personagem Dulce da novela Morde & Assopra das 19h da Globo que acabou. Comecei a assistir a novela porque estava de repouso em casa após a cirurgia em maio e acabei me encantando com a interpretação e a personagem Dulce, por sua humildade. Na cena de um dos últimos episódios Dulce (Cássia Kiss) chega em casa após ter fugido do hospital e sua amiga Júlia (Adriana Esteves) a encontra. Com atuações primorosas e emocionantes na cena que achei arrebatadora, Dulce conversa com Júlia. Júlia verbaliza que a conversa está parecendo uma despedida, Dulce diz que ta percebendo que não está boa de saúde (tinha câncer, mas não sabia) e enquanto isso Júlia tenta engolir o choro e reprimir os sentimentos para que Dulce não perceba. Dulce questiona Júlia sobre qual é sua doença e Júlia desconversa. Dulce então diz "Eu sei que a senhora sabe. Se a senhora não quer falar, não fala. Mas não mente não.". Júlia explode em lágrimas, denunciando o futuro nebuloso da amiga. Dulce compreende o recado e começa a falar que quer ficar perto da família e dos amigos quando chegar a hora, isto é melhor que o hospital. Então, ela meio que vai preparando sua despedida dizendo "Está tudo certo...", de forma ligeiramente triste e preocupada, entretanto aceita de forma grata e bondosa o seu destino. Nosso destino. E no último episódio ocorre a consumação do fato numa cena bonita, tocante e cheia de vida (vejam só a contradição).

Talvez o parágrafo acima fosse desnecessário, mas queria ressaltar este fato concreto. Poderíamos perguntar: Mas quem é a criatura que em sã consciência iria se preparar para morrer como quem organiza uma festa ou se enfeita para um grande evento? Esta é a pergunta que gostaria de deixar para que cada um responda para si. É estranho pensarmos nisso, mas é decorrente do tabu que criamos em torno da morte. Devemos aceitar o fato de que esta oportunidade, este presente de Deus, passará e devemos, acima disso, nos preparar em vida para este momento. Quando digo aqui em casa e para pessoas próximas da forma como quero o enterro etc, sou recebido com muita estranhesa e o famoso "Vira essa boca pra lá! Ta ficando doido?". Ao que respondo de forma bem-humorada, simples e realista "Uai, se vocês quiserem ficar aqui fiquem a vontade, porque eu vou embora!". Raras são as pessoas que têm esta oportunidade, especialmente se não tiverem debilitadas por alguma doença. Pessoas que se preparam são sábias e conscientes. Conscientes de nossa finitude e impotência diante do momento do nosso retorno. E que ironia engraçada, não? Somos seres imortais, mas não vivemos para sempre. Gostaria de reforçar: somos seres espirituais passando por uma experiência na matéria. Portanto, somos imortais em essência, mas limitados no corpo. E precisamos sempre dele, pelo menos por enquanto. Estamos sempre de passagem e, ao contrário do que muitos imaginam, a morte existe para nos ajudar. Por isso a necessidade da reencarnação, como mostra a Lei Natural. Mas isso já é outro assunto...

Namastê. Au revoir.

3 comentários:

  1. Oi,tentei comentar antes com acesso pela conta do google e não deu certo,vou como anônimo então.Pena que tinha comentado e perdi,como o horário está meio avançado vou ser mais breve.O texto ficou muito legal na minha opinião e a reflexão levantada faz muito sentido e acredito também ser muito importante.Já vivi situação semelhante com minha família principalmente e amigos falando sobre isso.E até achei engraçado vc comentar isso também.É o diferente, ainda incomoda.Mas,esta conscientização é fundamental e evitaria muito sofrimento e dificuldades de lidar com a perda.Pois,esta é a única certeza que a vida nos dá,que um dia partiremos;então assim como fazem tantos preparativos ou recepções para chegada é lógico que pensemos e nos preparemos melhor para a reta final por aqui na nossa caminhada.Obrigada mais uma vez pela visita e apoio e um grande abraço.(não lembrei exatamente tudo o que tinha escrito no outro comentário,mas acho que o principal tá aí e vc vai entender...)Essa sou eu,bem atrapalhada...LUZ.Boa noite/dia !

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  2. Oi,muito bom o vídeo 99 não é 100.Não deu tempo de ver tudo naquele dia,às vezes me empolgo com o tema e lembranças do mesmo e já quero logo escrever.Depois ficou tarde e acabei deixando pra ver no dia seguinte.Não acompanhei a novela,mas vi algumas vezes e antes mais no começo da mesma quando ainda estava em casa neste horário(mas não tenho mais paciência com novelas,vi mais qdo adolescente).Depois,vc vai vendo que não perde nada em não acompanhar é raro algo que se aproveite,mas existe esses momentos(foi o exemplo desta personagem e cenas),bem como o exemplo do senhor muito simpático das latinhas...simples,mas muito sábios e nos dão uma grande lição de vida.Pois,não vão ser os diplomas que vão verdadeiramente nos formar e sim a vida.É importante estudar sim e valorizar os estudos,os esforços que são exigidos muitas vezes,as lutas de cada um.Mas,não devemos esquecer que infelizmente nem todos tiveram ou nem todos ainda têm acesso aos estudos e qdo tem,nem sempre o sistema é igualitário e justo pra todos(sem falar no mercado de trabalho).Muito bom os complementos do seu texto e peço desculpas por não ter visto antes.Abraço.LUZ.

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  3. Imagina, vc não tem que se desculpar por nada. Este documentário brasileiro é de exímia excelência e surpreendente. Estudo é sim importante, mas de repente nos deparamos com pessoas ou situações assim, que graças a Deus são "boas". Inclusive esse senhorzinho morreu um tempo depois das filmagens (é falado no filme).
    Essa semana tive mais algumas ideias relacionadas ao tema da morte e que talvez os coloque aqui mais pra frente.

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